O ALIENISTA DE MACHADO DE ASSIS: CRÍTICA AO DISCURSO AUTORITÁRIO SOBRE O PENSAR TECNOLÓGICO
Resumo
O objeto de análise deste artigo é o conto O Alienista (1998), de Machado de Assis, sob a perspectiva da obra Serenidade (2000), de Martin Heidegger. O intuito é expor a sátira presente na obra machadiana acerca do discurso científico que se pretende absoluto e inquestionável, o qual Heidegger criticamente aborda em sua obra. Estabelecendo uma conexão entre o escritor e o filósofo, é analisada, além do poder científico, a forma autoritária com a qual o pensar é conduzido no meio científico e tecnológico no conto machadiano. Para Heidegger (2000), o universo técnico tanto prende o homem quanto o torna parte da técnica, pois a falta de reflexão faz com que o homem perca o controle do desenvolvimento dessa técnica, sendo subjugado por ela. Nesse caso, é uma vontade nata do ser humano querer subjugar as coisas ao seu poder e, por intermédio da técnica, ele deseja controlar tudo. Entretanto, como não há uma reflexão acerca do uso dessa técnica, o homem acaba perdendo o controle do seu desenvolvimento e invertendo o papel de dominador para dominado. O homem perde sua identidade e sua essência (o ser), e a vontade que ele tem de controlar tudo acaba cegando-o de tal modo que a verdadeira manifestação do ser é impedida. A ausência de reflexão, segundo Heidegger (2000), prepara o homem para uma era de inquestionabilidade. Para se fazer essa análise acerca do pensamento, e como foge ao controle o que se tenta subjugar pelo poder absoluto e exato, é utilizado o conceito heideggeriano do pensamento que calcula e do pensamento que reflete, sobretudo na fala e atitudes da personagem principal Simão Bacamarte.