COMUNIDADES TRADICIONAIS, A CONSTRUÇÃO CURRICULAR E A VALORIZAÇÃO DIALÓGICA COM SABERES
Resumo
Este artigo pretende problematizar e refletir sobre limites, possibilidades e tensões do uso dos saberes de comunidades de pesca tradicional, como balizadores na construção de currículos de cursos técnicos. Os dados apresentados aqui são parte de uma pesquisa de doutoramento e são pré-categorizados a partir do processo de trabalho na pesca artesanal, como seus instrumentos de captura e estrutura organizacional de beneficiamento até sua venda. As fotografias foram capturadas nas cinco regiões do Brasil, em colônias de pescadores que participaram do Curso Técnico em Pesca, na modalidade Educação a distância, integrada ao Ensino Médio para adultos, oferecido pelo Instituto Federal do Paraná. Atualmente identifica-se contradição nas políticas públicas para essas comunidades pois, por um lado reconhecem seu caráter artesanal definido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), mas por outro ofertam cursos técnicos com premissas desenvolvimentistas. A análise se deu no diálogo de autores como Gramsci, Freire e Berman. Como parte das considerações levantam-se questões de reconhecimento das possibilidades de permanência e de resistência dos saberes dessas comunidades, em oposição à tecnologia da sociedade capitalista, que confronta e impõe o moderno em oposição ao artesanal, constituidor de sua identidade. Essas e outras contradições possíveis na construção e efetivação do currículo, que ora é crítico problematizador, ora apregoa um determinismo tecnológico, são derivações do currículo para trabalhadoras e trabalhadores tradicionais jovens e adultos. Propõe-se, nesse sentido, uma reflexão sobre os currículos engessados que ao não dialogarem com os saberes tradicionai descaracterizam a identidade dessas comunidades.Referências
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